Quando Jesus nos concitava à renunciação aos laços consanguíneos para buscar-lhe o Reino de Amor e Luz, não se propunha implantar entre nós o espinheiro do ódio ou o frio da indiferença. Proclamava, sim, o impositivo de nossa fidelidade a Deus, no cumprimento integral dos nossos deveres para com a Lei Divina que institui a Terra como sendo nosso lar, e a Humanidade como sendo a nossa própria família.
O Mestre nunca anulou a personalidade dos discípulos, à maneira do ditador humano que exige cega obediência à sua bandeira egocentrista, na clã política em que se lhe enraíza o precário poder. Preocupava-se, acima de tudo, em soerguer-nos o espírito para a responsabilidade de que somos detentores ante os princípios eternos que nos regem os destinos, em nome de Deus.
Por isso mesmo, alertava o ânimo dos aprendizes para o leal desempenho dos compromissos que haviam esposado, à frente da Boa Nova, num mundo hostil e atormentado qual aquele em que se expandira o arbítrio romano, poderoso e dominador.
Urgia estabelecer a coragem e consolidá-la no espírito dos seguidores que seriam compelidos, logo depois de seu Sacrifício Supremo, a trezentos anos de suplício e aflição, violência e martírio, humilhação e morte.
Por vezes, é necessário recorrer ao painel do passado para compreendermos a força de certas expressões que os séculos obscureceram e que hoje se afiguram sem maior significação, de modo a lançarmos nova claridade no rumo do porvir.
Estudando a essência da lição, sem as fronteiras acanhadas e asfixiantes da letra, podemos repetir que todos aqueles que se mostrem incapazes de esquecer o conforto doméstico ou de se desvencilharem das vantagens e gratificações da existência física para o serviço à causa do bem, a benefício de todos, ainda não se mostram habilitados ao árduo trabalho na charrua do dever cristão bem atendido, porque se revelam excessivamente presos às veludosas algemas dos interesses imediatos na carne que passa breve.
Quanto ao imperativo de renunciação propriamente considerado, não nos esqueçamos do padrão em que o próprio Mestre renunciou.
Gênio Celeste, abandona o seu Império Resplendente de Glória para fazer-se escravo das criaturas.
Governador da Terra, submete-se às convenções sociais do mundo, satisfazendo-lhe as exigências qual se fora cidadão comum e Anjo Crucificado pela ingratidão dos próprios beneficiários, em ressurgindo da morte, fixa-se-lhe a atenção na volta generosa aos companheiros que o haviam esquecido e abandonado, a fim de reerguer-lhes a esperança e restabelecer-lhes a alegria.
Renunciemos à satisfação de sermos amados ou compreendidos por nossos familiares, servindo-os e auxiliando-os, cada vez mais, tanto quanto o Senhor nos tem auxiliado e servido, não obstante as nossas velhas e reiteradas defecções, e estaremos praticando com segurança e valor os Excelsos Ensinamentos.