Questão n.° 290 de “O Livro dos Espíritos”
Entre familiares e amigos, encontras, na Terra, a oficina do teu burilamento.
Com raras exceções, todos apresentam problemas a resolver.
Problemas na emoção e no pensamento.
Problemas na palavra e na ação.
Problemas no lar e no trabalho.
Problemas no caminho e nas relações.
Prossegues, assim, junto deles, como quem respira ao pé de múltiplos instrutores num instituto de ensino.
Muitos reclamam trabalho, lecionando-te paciência, enquanto outros te ferem a sensibilidade, diplomando-te em sacrifício. Há os que te escandalizam incessantemente, adestrando-te em piedade, e aqueles que te golpeiam a alma, com as lâminas invisíveis da ingratidão, para que aprendas a perdoar.
E as lições vão surgindo, à maneira de testes inevitáveis.
Agora, é o esposo que deserta, dobrando-te a carga de obrigações, ou, noutras circunstâncias, é a esposa que se rebela aos compromissos, agoniando-te as horas… Hoje, ainda, são os pais que te contrariam as esperanças, os filhos que te aniquilam os sonhos ou os amigos que se transformam em duros entraves no serviço a fazer.
Nenhum problema, entretanto, aparece ao acaso, e, por isso, é imperioso te armes de amor para a luta íntima.
Fugir da dificuldade é, muitas vezes, a ideia que te nasce como sendo o melhor remédio. Semelhante atitude, porém, seria o mesmo que debandar, menosprezando as exigências da educação.
Carrega, pois, com serenidade e valor o fardo de aflições que o pretérito te situa nos ombros, convicto de que os associados complexos do destino são antigos parceiros de tuas experiências, a repontarem do caminho, solicitando contas e acertos.
Seja qual for o ensinamento de que se façam intérpretes, roga à Sabedoria Divina te inspire a conduta, a fim de que não percas o merecimento da escola a que a vida te conduziu.
Ainda mesmo em lágrimas, lê, sem revolta, no livro do coração, as páginas de dor que te imponham, ofertando-lhes por resposta as equações do amor puro, em forma de tolerância e bondade, auxílio e compreensão.
Recorda que o próprio Cristo, sem débito algum, transitou, cada dia, na Terra, entre esses professores diferentes do espírito. E, solucionando, na base da humildade, os problemas que recebia na atitude e no comportamento de cada um, submeteu-se, a sós, à prova final da suprema renúncia, à qual igualmente te submeterás, um dia, na conquista da própria sublimação — o único meio de te elevares ao clima glorioso dos companheiros já redimidos que te aguardam, vitoriosos, nas eminências da Espiritualidade.