Parnaso de Além-Túmulo

Às Filhas da Terra

 

Do Seu trono de luzes e de rosas,

A Rainha dos Anjos, meiga e pura,

Estende os braços para a desventura,

Que campeia nas sendas espinhosas.

Ela conhece as lágrimas penosas

E recebe a oração da alma insegura,

Inundando de amor e de ternura

As feridas cruéis e dolorosas.

Filhas da Terra, mães, irmãs, esposas,

No turbilhão dos homens e das coisas,

Imitai-A na dor do vosso trilho!…

No Templo da Educação

 

Distribuía o Mestre os dons divinos

Da luz do seu Espírito sem jaça,

E exclama, enquanto a turba observa e passa:

— «Deixai virem a mim os pequeninos!…»

 

 

Caridade

 

Caridade é a mão terna e compassiva

Que ampara os bons e aos maus ama e perdoa,

Misericórdia, a qual para ser boa,

De bens paradisíacos se priva.

 

Mão radiosa, que traz a verde oliva

Da paz, que acaricia e que abençoa,

Voz da eterna verdade que ressoa

Por toda a parte, promissora e ativa.

 

A caridade é o símbolo da chave

Que abre as portas do céu claro e suave,

Parnaso de Além-Túmulo

 

Além do túmulo o Espírito inda canta

Seus ideais de paz, de amor e luz,

No ditoso país onde Jesus

Impera com bondade sacrossanta.

 

Nessas mansões, a lira se levanta

Glorificando o Amor que em Deus transluz,

Para o Bem exalçar, que nos conduz

À divina alegria, pura e santa.

 

Dessa Castália eterna da Harmonia

Transborda a luz excelsa da Poesia,

Mensagem Fraterna

 

Meu irmão: Tuas preces mais singelas

São ouvidas no espaço ilimitado,

Mas sei que às vezes choras, consternado,

Ao silêncio da força que interpelas.

 

Volve ao teu templo interno abandonado,

— À mais alta de todas as capelas —

E as respostas mais lúcidas e belas

Hão-de trazer-te alegre e deslumbrado.

 

Ouve o teu coração em cada prece.

Deus responde em ti mesmo e te esclarece

Marchemos!

 

Há mistérios peregrinos

No mistério dos destinos

Que nos mandam renascer:

Da luz do Criador nascemos,

Múltiplas vidas vivemos,

Para à mesma luz volver.

 

Buscamos na Humanidade

As verdades da Verdade,

Sedentos de paz e amor;

E em meio dos mortos-vivos

Somos míseros cativos

Da iniquidade e da dor.

 

É a luta eterna e bendita,

Ajuda e Passa

 

Estende a mão fraterna ao que ri e ao que chora:

O palácio e a choupana, o ninho e a sepultura,

Tudo o que vibra espera a luz que resplendora,

Na eterna lei de amor que consagra a criatura.

 

Planta a bênção da paz, como raios de aurora,

Nas trevas do ladrão, na dor da alma perjura;

Irradia o perdão e atende, mundo afora,

Onde clame a revolta e onde exista a amargura.

 

Supremacia da Caridade

 

A fé é a força potente
Que desponta na alma crente,
Elevando-a aos altos Céus:
Ela é chama abrasadora,
Reluzente, redentora,
Que nos eleva até Deus.

A esperança é flor virente,
Alva estrela resplendente,
Que ilumina os corações,
Que conduz as criaturas
As almejadas venturas
Entre célicos clarões.

A caridade é o amor,
É o sol que Nosso Senhor
Fez raiar claro e fecundo;
Alegrando nesta vida
A existência dolorida
Dos que sofrem neste mundo!

Temos Jesus

 

Temos Jesus
Abel Gomes

Desaba o Velho Mundo em treva densa
E a guerra, como lobo carniceiro,
Ameaça a verdade e humilha a crença,
Nas torturas de um novo cativeiro.

Mas vós, no turbilhão da sombra imensa,
Tendes convosco o Excelso Companheiro,
Que ama o trabalho e esquece a recompensa
No serviço do bem ao mundo inteiro.

Eis que a Terra tem crimes e tiranos,
Ambições, desvarios, desenganos,
Asperezas dos homens da caverna;