Filho de imigrantes portugueses e caçula de cinco filhos, João Cabete nasceu no dia 03 de abril de 1919, na cidade de São Paulo (SP), onde passou sua infância e juventude.
Apesar dos momentos difíceis, principalmente por ter perdido o pai aos oito anos de idade, a veia musical sempre esteve presente. Desde criança, acompanhado de seu inseparável violão, já fazia apresentações em movimentos promovidos pelas rádios da comunidade portuguesa.
Ao longo da vida, Cabete conquistou muitos amigos e irmãos sinceros dentro da Doutrina Espírita, bem como parceiros musicais, entre eles, Welson Barbosa, Rafael Américo Ranieri, e Caribe. Este último foi muito marcante, pois foi em sua casa, localizada em São Bernardo do Campo (SP), que Cabete, reunido com outros poetas como Formiga e Babete, escreveu um grande número de letras musicais.
Mas sua verdadeira fonte de inspiração sempre foi a natureza e Deus em Sua grandeza. A maioria de suas composições foi feita ao pé do piano, instrumento para o qual nunca estudou, mas que tocava muito bem.
Sobre um de seus maiores – e mais lindos – cânticos, Alma das Andorinhas, ele disse, certa vez: “Tarde fria e chuvosa de inverno. Minha esposa tricotava encolhida num sofá da sala. Nesse instante, senti que era levado por alguém ao piano. Comovido, obedeci”.
Cabete foi casado com Ady Lourdes, com quem teve cinco filhos: Dinazara, Denise Cinira, João Euclides, Domota e Lílian Cristina (filha adotiva). E é Dinazara quem recorda como era o pai: “Falar de meu pai se torna ainda mais difícil, porque ele sempre pensou muito na família, era amoroso e amigo com todos. Até mesmo os netos, que não tiveram a oportunidade de conviver muito tempo com ele, recordam-se nitidamente de sua doce presença”.
Além da sua paixão pela música, João Cabete concluiu o curso da Faculdade de Direito depois dos 40 anos de idade, ocasião em que foi orador de sua turma. Em 1953, tornou-se tabelião na cidade de Cruzeiro (SP), no 20º Cartório de Notas e Ofícios. Na mesma década, fundou o Grupo da Fraternidade Carmem Cinira, que iniciou como orfanato e atua como creche.
Segundo sua família, Cabete sempre foi uma pessoa muito disposta e que usou o seu tempo na terra como algo precioso. Entre as diversas atividades, pertenceu ao Rotary Club (do qual foi presidente) e fundou uma obra social denominada “S.O.S”. Dentro do Movimento da Fraternidade, era filiado à Organização Social Cristã-Espírita André Luiz (Oscal), da qual foi um dos fundadores e um membro atuante.
Entretanto, o coração físico de Cabete, infelizmente, não comportou tantas atividades e emoções. As palestras que fazia ao violão foram sendo reduzidas, impossibilitando-o de viajar e ver os amigos, o que o fez sofrer muito com tal situação.
Em 26 de agosto de 1987, na cidade de Cruzeiro (SP), João Cabete desencarnou, aos 68 anos, vítima de insuficiência cardíaca. Um grande nome da música espírita partiu para o Plano Espiritual, mas as notícias continuaram a chegar por meio de mensagens psicografadas, principalmente por Glória Caribe, uma grande amiga da família.
LEGADO MUSICAL
João Cabete foi um destes tantos lutadores e divulgadores da música espírita. Ele não chegou a gravar um LP ou CD, mas tinha um amor muito grande pelo Coral Scheilla, do Grupo de Fraternidade Espírita Irmã Scheila (Gfeis), de Belo Horizonte (MG), e também pelo Coral de Juiz de Fora (MG) - tanto que suas músicas foram gravadas e interpretadas por diversos cantores, grupos e corais espíritas.
Cabete escreveu mais de 200 composições, interpretadas até hoje por vários grupos e corais espalhados pelo Brasil (veja um dos hinários). Entre as mais conhecidas, estão músicas como “Alma das Andorinhas”, “Além das Grandes Estrelas” e “Fim dos Tempos”.
Sobre essa última, aliás, Cabete explicou, certa vez, como teve a inspiração para compô-la: “Assistia com minha família, pela televisão, as cenas da guerra (do Vietnã) e, sentindo meu coração dolorido entre tanta dor, deixei que meu pensamento vagasse pelo espaço infinito, buscando ver o amanhecer da humanidade, quando, esclarecida e iluminada pelo Evangelho de Jesus, construiria a paz duradoura do mundo de regeneração que todos aspiram.
“Não haveria fronteiras, os canhões transformados em urnas de flores, os homens sem divisões, uns amparando aos outros, o fraco sendo ajudado pelo mais forte, enfim, a humanidade redimida. Mais uma vez, fui ao meu piano para que traduzisse em canção todas as emoções que estava sentindo, vendo hoje o amanhã.”
Fontes:
- Academia de Letras de São João da Boa Vista
- Revista Cristã de Espiritismo - Especial Música, Ed. nº 01
- Grupos da Fraternidade Irmã Scheilla e Irmã Ló