Paris, 31 de março de 1869. Vitimado pela ruptura de um aneurisma, aos 65 anos, o professor Hippolyte-Léon-Denizard Rivail cerrava os olhos no Plano Físico para despertar com as venturas do dever cumprido no Plano Espiritual.
Se o desenlace de Allan Kardec do corpo carnal - que completa 150 anos em 2019 – representa para o Espiritismo uma efeméride a ser rememorada e celebrada, esse espaço temporal ainda é pequeno diante do quão significativa e crescente se tornou a Doutrina por ele codificada para fácil compreensão das pessoas.
O Espiritismo, enquanto doutrina – com pressupostos e fundamentos, nasceu da capacidade de ir além do que se vê, da fenomenologia. Eram as perguntas que deveriam ser feitas com a metodologia correta, e que foram assim sintetizadas por Kardec.
Um homem que recebeu por missão a organização das informações dessa Revelação Divina, e que era cônscio das suas fragilidades e de como elas poderiam interferir no êxito ou fracasso da Codificação do Espiritismo.
Traduzimos, abaixo, uma mensagem recebida por Kardec do Espírito Verdade através da médium, Senhorita Aline C., em 12 de junho de 1856, e que pertence à biografia do Codificador presente no livro “O Que É O Espiritismo”:
“P.: Quais são as causas que me poderiam fazer fracassar? Seria a insuficiência das minhas aptidões?
“R.: Não, mas a missão dos reformadores é cheia de escolhos e perigos; a tua é rude; previno-te, porque é ao mundo inteiro que se trata de agitar e de transformar. Não creias que te seja suficiente publicar um livro, dois livros, dez livros, e ficares tranquilamente em tua casa; não, é preciso te mostrares no conflito; contra ti se açularão terríveis ódios, implacáveis inimigos tramarão a tua perda; estarás exposto à calúnia, à traição, mesmo daqueles que te parecerão mais dedicados; as tuas melhores instruções serão impugnadas e desnaturadas; sucumbirás mais de uma vez ao peso da fadiga; em uma palavra, é uma luta quase constante que terás de sustentar com o sacrifício do teu repouso, da tua tranquilidade, da tua saúde e mesmo da tua vida, porque tu não viverás muito tempo. Pois bem. Mais de um recua quando, em lugar de uma vereda florida, não encontra sob seus passos senão espinhos, agudas pedras e serpentes. Para tais missões não basta a inteligência. É preciso antes de tudo, para agradar a Deus, humildade, modéstia, desinteresse, porque abatem os orgulhosos e os presunçosos. Para lutar contra os homens, é necessário coragem, perseverança e firmeza inquebrantáveis; é preciso, também, ter prudência e tato para conduzir as coisas a propósito e não comprometer-lhes o êxito por medidas ou palavras intempestivas; é preciso, enfim, devotamento, abnegação, e estar pronto para todos os sacrifícios.
“Vês que a tua missão está subordinada a condições que dependem de ti.”
E ele teve as mais variadas intempéries. Como qualquer encarnado. Sofreu traição no seio da própria família, incompreensão, julgamentos, boicotes, e resistiu, firme, no propósito de trazer a luz dos Espíritos Superiores e de Jesus em um contexto histórico no qual a humanidade clamava luz em todos os sentidos: o Iluminismo.
A luz aqui referida é a da fé raciocinada, que não teme ao ser questionada e se embasa na lógica e no bom senso, na ausência de dogmas e no apelo à razão.
É a fé proposta pela Doutrina Espírita, que há mais de 160 anos veio consolar, iluminar, instruir e nos religar com o Evangelho do Cristo.
O corpo físico de Allan Kardec está sepultado no Cemitério Père-Lachaise, em Paris, ao lado de sua esposa, Amélie-Gabrielle Boudet (que desencarnou em 21 de janeiro de 1883).
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