A Mensagem da Rocha

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Capítulo: 
23
Espírito(s): 

 

  O homem caído em fundo desalento,

  Perante imensa dor, cruelmente sofrida,

  Fora ao topo da rocha, a passo triste e lento,

  Desejando escapar às lágrimas da vida.

 

  Sentia-se cansado, em abalo profundo,

  E queria fugir, ante as provas do mundo…

 

  Mais de trezentos metros… E atingira

  O ápice da altura

  De que estava à procura

  Para a queda fatal;

 

  Mas enquanto antevia o momento final,

  Fitando enorme abismo, a esperá-lo em silêncio,

  Quando brando torpor lhe invade o corpo e vence-o,

  Surge-lhe a indecisão, lamenta-se, medita,

  Quando escuta assombrado,

  De alma tremente e aflita,

  A voz da própria rocha,

  Cujo penhasco, em cima, erguia-se-lhe ao lado:

  — Pára, ouve e reflete, meu amigo,

  Não te mates em vão,

  Por mais te fira a provação

  Não olvides que Deus está contigo.

  O sofrimento é vida que te apruma,

  Não acharás a morte, em parte alguma…

  Declaras-te infeliz, tens o peito magoado,

  Afirmas que ninguém te dá valor,

  Que não passas de um ser estranho e sofredor,

  A morrer de amargura e desagrado;

  Por maior seja a angústia em que te expresses,

  Tens contigo a razão por dom divino,

  Podes modificar o teu próprio destino,

  Quanto a mim, tal qual sou, não sei se me conheces…

  Sou a rocha esquecida

  Que deve sustentar os processos da vida…

  Calço o leito dos mares,

  Carrego a Terra toda em total disciplina,

  Aceito sem queixar-me a lei que me domina,

  Não sei se o meu trabalho é singelo ou de vulto,

  Sei, porém, que na esteira das idades,

  Suporto sobre mim os campos e as cidades

  Sem que ninguém me anote o esforço oculto…

  Sou o piso dos rios e das fontes,

  Protejo entre os arados e os tratores,

  Desde o vale mais baixo à eminência dos montes,

  O cultivo dos frutos e das flores.

  Devo, porém, dizer-te que, além disso,

  Desde as eras passadas,

  Sempre sofri com rudes marteladas…

  Picaretas, formões e outros instrumentos

  Arrebentam-me a forma, entre golpes violentos;

  Aos que me espancam devo abrir os braços

  A fim de que me arranquem aos pedaços.

  Os homens que me buscam

  Ferem-me sem cessar com lâminas e limas,

  Fazem comigo casas e obras-primas,

  Não se lembram, porém, na agressão que me alcança,

  Que Deus, em mim, lhes guarda a vida e a segurança…

  Agora, em minha dor, por mais gema e mais grite,

  Estraçalham-me o corpo a dinamite.

  Mas em nada lastimo as lutas que confesso,

  Busco servir a Deus que me fez tal qual sou,

  Para guardar o mundo e estender o progresso.

  Sou em minha aspereza,

  Por determinação da natureza,

  Alto poder vencido,

  Mas Deus que é tudo em todos sempre foi

  O Anônimo Esquecido…

  Depois de longa pausa, a rocha ainda lhe diz:

  — Vive, trabalha, sofre, aprende, luta,

  Não olvides que Deus te acompanha e te escuta,

  Nem te esqueças que podes ser feliz.

 

  O homem desanimado transformou-se,

  Abraçado ao penhasco, ele, o quase suicida,

  Suplicou a chorar: — Perdoa-me, Senhor!

  Ouvi a voz da pedra… Agora entendo a dor

  A fim de compreender a grandeza da vida.

  E erguendo para o Alto os braços seus,

  Traduzindo a alegria em pranto ardente,

  Exclamou, reverente:

  — Obrigado, meu Deus!