O homem caído em fundo desalento,
Perante imensa dor, cruelmente sofrida,
Fora ao topo da rocha, a passo triste e lento,
Desejando escapar às lágrimas da vida.
Sentia-se cansado, em abalo profundo,
E queria fugir, ante as provas do mundo…
Mais de trezentos metros… E atingira
O ápice da altura
De que estava à procura
Para a queda fatal;
Mas enquanto antevia o momento final,
Fitando enorme abismo, a esperá-lo em silêncio,
Quando brando torpor lhe invade o corpo e vence-o,
Surge-lhe a indecisão, lamenta-se, medita,
Quando escuta assombrado,
De alma tremente e aflita,
A voz da própria rocha,
Cujo penhasco, em cima, erguia-se-lhe ao lado:
— Pára, ouve e reflete, meu amigo,
Não te mates em vão,
Por mais te fira a provação
Não olvides que Deus está contigo.
O sofrimento é vida que te apruma,
Não acharás a morte, em parte alguma…
Declaras-te infeliz, tens o peito magoado,
Afirmas que ninguém te dá valor,
Que não passas de um ser estranho e sofredor,
A morrer de amargura e desagrado;
Por maior seja a angústia em que te expresses,
Tens contigo a razão por dom divino,
Podes modificar o teu próprio destino,
Quanto a mim, tal qual sou, não sei se me conheces…
Sou a rocha esquecida
Que deve sustentar os processos da vida…
Calço o leito dos mares,
Carrego a Terra toda em total disciplina,
Aceito sem queixar-me a lei que me domina,
Não sei se o meu trabalho é singelo ou de vulto,
Sei, porém, que na esteira das idades,
Suporto sobre mim os campos e as cidades
Sem que ninguém me anote o esforço oculto…
Sou o piso dos rios e das fontes,
Protejo entre os arados e os tratores,
Desde o vale mais baixo à eminência dos montes,
O cultivo dos frutos e das flores.
Devo, porém, dizer-te que, além disso,
Desde as eras passadas,
Sempre sofri com rudes marteladas…
Picaretas, formões e outros instrumentos
Arrebentam-me a forma, entre golpes violentos;
Aos que me espancam devo abrir os braços
A fim de que me arranquem aos pedaços.
Os homens que me buscam
Ferem-me sem cessar com lâminas e limas,
Fazem comigo casas e obras-primas,
Não se lembram, porém, na agressão que me alcança,
Que Deus, em mim, lhes guarda a vida e a segurança…
Agora, em minha dor, por mais gema e mais grite,
Estraçalham-me o corpo a dinamite.
Mas em nada lastimo as lutas que confesso,
Busco servir a Deus que me fez tal qual sou,
Para guardar o mundo e estender o progresso.
Sou em minha aspereza,
Por determinação da natureza,
Alto poder vencido,
Mas Deus que é tudo em todos sempre foi
O Anônimo Esquecido…
Depois de longa pausa, a rocha ainda lhe diz:
— Vive, trabalha, sofre, aprende, luta,
Não olvides que Deus te acompanha e te escuta,
Nem te esqueças que podes ser feliz.
O homem desanimado transformou-se,
Abraçado ao penhasco, ele, o quase suicida,
Suplicou a chorar: — Perdoa-me, Senhor!
Ouvi a voz da pedra… Agora entendo a dor
A fim de compreender a grandeza da vida.
E erguendo para o Alto os braços seus,
Traduzindo a alegria em pranto ardente,
Exclamou, reverente:
— Obrigado, meu Deus!