Há 160 anos, em 1º de janeiro de 1858, Allan Kardec lançava a primeira edição da Revista Espírita da qual foi diretor até seu falecimento. Ao longo dos 135 números da Revista Espírita, somando 4.568 páginas, publicados entre os anos 1858 e 1869, é possível ao leitor conhecer um pouco do caminho desenvolvido pelo codificador e o debate de ideias consolidadas nos livros da Codificação Espírita.
A Revista Espírita tinha como subtítulo “Jornal de Estudos Psicológicos” e nas palavras de Kardec tratava do “relato das manifestações materiais ou inteligentes dos Espíritos, aparições, evocações, etc., bem como todas as notícias relativas ao Espiritismo”. O lançamento da Revue Spirit foi um ano após a publicação da primeira versão de O Livro dos Espíritos, em 18 de abril de 1857, ainda com 501 perguntas e respostas.
Quando desencarnou Kardec, em 31 de março de 1869, o número de abril já estava concluído e foi publicado com sua assinatura. Antes do lançamento do primeiro volume, em reunião mediúnica na residência do Sr. Dufaux, em novembro de 1857, Allan Kardec consultou a Espiritualidade amiga a respeito da ideia que alimentava de publicar um jornal espírita. De pronto recebeu o apoio da Entidade, que deu a ele a seguinte orientação, por meio da médium Ermance Dufaux:
[...] De começo, deves cuidar de satisfazer à curiosidade; reunir o sério ao agradável: o sério para atrair os homens de Ciência, o agradável para deleitar o vulgo. Esta parte é essencial, porém a outra é mais importante, visto que sem ela o jornal careceria de fundamento sólido. Em suma, é preciso evitar a monotonia por meio da variedade, congregar a instrução sólida ao interesse que, para os trabalhos ulteriores, será poderoso auxiliar. (Obras Póstumas, 33. ed. FEB, p. 294)
A tarefa não era fácil e implicava gastos de certa gravidade. A princípio Kardec procurou alguém que pudesse patrocinar a obra, colaborando financeiramente para que ela viesse à luz, mas razões providenciais fizeram com que não lograsse o êxito desejado. Mesmo assim, diz ele,
[...] apressei-me a redigir o primeiro número e fi-lo circular a 1o de janeiro de 1858, sem haver dito nada a quem quer que fosse. Não tinha um único assinante e nenhum fornecedor de fundos. Publiquei-o correndo eu, exclusivamente, todos os riscos e não tive de que me arrepender, porquanto o resultado ultrapassou a minha expectativa. A partir daquela data, os números se sucederam sem interrupção e [...] esse jornal se tornou um poderoso auxiliar meu.
Ao lançar a Revista Espírita, em 1858, Allan Kardec ainda tinha pela frente a publicação de O que é o Espiritismo (1859), O Livro dos Médiuns (1861), O Evangelho segundo o Espiritismo (1864), O Céu e o Inferno (1865) e A Gênese (1868). Ainda estariam por ser lançados alguns opúsculos: O Espiritismo na sua expressão mais simples (1862), Viagem Espírita em 1862 (1862), Resumo da lei dos fenômenos espíritas (1864), Caracteres da Revelação Espírita (1868), sem falar da Instrução prática das manifestações espíritas (1858), livro de maior porte, substituído três anos mais tarde por O Livro dos Médiuns, muito mais abrangente e metódico.
Em 2008, na comemoração dos 150 anos da Revista, a Federação Espírita Brasileira lançou um Índice Geral. São aproximadamente 4.000 entradas principais (descritores) e mais de 13.500 entradas secundárias (detalhamentos) compiladas dos 12 volumes (1858-1869) e 144 números (considerando-se os 12 números – jan. a dez. de 1869) da Revista Espírita.
A iniciativa da FEB teve como inspiração palavras de Allan Kardec, na edição de dezembro da Revista, dizia aos seus leitores da intenção de publicar “[...] um índice geral alfabético de todos os assuntos tratados, seja na Revista, seja em nossas outras obras, de maneira a facilitar as pesquisas.” Mas não o fez, pois o tempo escasso e o breve retorno à Pátria Espiritual não lhe permitiram.
A Revista Espírita foi um laboratório de ideias e debates, espécie de tribuna livre, utilizada por Allan Kardec para sondar a reação dos homens e a impressão dos Espíritos acerca de determinados assuntos, ainda hipotéticos ou mal compreendidos, enquanto lhes aguardava a confirmação.