Quando o Divino Mestre, nascituro, abria os braços tenros à luz suave da noite, na estrebaria singela, eis que fulgura no alto sublimada estrela… E quantos velavam na Terra compreenderam que o Divino Rei havia nascido.
Toda a província Romana da Palestina recebeu, de improviso, na claridade silenciosa do astro solitário, a esperada revelação.
Sacerdotes e oráculos, políticos e príncipes da Judeia tremeram espantados. Onde estaria o excelso Embaixador? No templo de Jerusalém ou no domicílio aristocrático de algum dos veneráveis doutores do Sinédrio?
Poderosos dignatários imperiais, nas vilas de repouso da Galileia, empalideceram, surpreendidos.
Em que privilegiado ponto do mundo permaneceria o Celeste Redentor? No palácio de Augusto ou no lar patrício de algum legado importante?
Ricos senhores da Samaria confiaram-se, perturbados, à insônia… Em que região venturosa da Terra teria surgido o Salvador? Em algum santuário do monte ou em abastada propriedade particular?
Negociantes de Cesaréa de Felipe, viajores do extenso vale do Jordão, caravaneiros que vinham da Fenícia, peregrinos de Decápole e todos os homens e mulheres acordados, desde o topo nevado do Hermon até as águas imóveis do Mar Morto, estáticos e felizes, viram a estrela descer vagarosamente, assinalando o berço divino, e os pastores e as crianças, almas simples da natureza, foram os primeiros a descobrir que o Rei Celeste brilhava na manjedoura…
Desde então, Jesus permanece vivo entre os homens, ensinando, reajustando, curando, redimindo…
Através de sombras e pesadelos, de calamidades e guerras, em quase vinte séculos de luta, a geografia sentimental do Cristianismo estendeu suas linhas da Palestina Ocidental a todos os círculos do Planeta e a estrela da grande Revelação, personificada hoje na ideia santificadora da fraternidade e da paz, continua luzindo no firmamento das nações, anunciando a Era Nova…
Onde encontraremos o Senhor? Prosseguem perguntando os inumeráveis viajadores da vida…
Nos castelos primorosos da fé? Nos monumentos que consagram o domínio exclusivista? Nas cerimônias suntuárias do culto exterior? Nos preciosos discursos da convicção dogmática?
Eis, porém, que a claridade cintilante da ideia conduz o coração que se faz simples e sincero ao Evangelho da Vida e o livro, em seu humilde arcabouço de papel, representa a nova manjedoura, em que realizamos o nosso encontro com o Espírito do Senhor…
Veremos no livro o santuário de nossa ascensão espiritual.
Quando o povo missionário se desvairava na idolatria, o Todo Poderoso salvou-o, com o livro dos Dez Mandamentos, por intermédio de Moisés.
Quando o Mestre Divino veio trazer à Terra as justas diretrizes da redenção, determinou o Todo Compassivo que um livro — O Evangelho da Boa Nova — lhe fixasse a luz.
Quando a civilização se desequilibrava com as tempestades morais, luminosas e destruidoras, da Revolução Francesa, o Todo Sábio amparou o mundo, então no declive de tenebrosos despenhadeiros, oferecendo-lhe O Livro dos Espíritos, através de Allan Kardec.
Depois da oração, o livro é a única escada pela qual o Céu pode descer à Terra.
Em verdade, quando um povo abandona o livro, começa a penetrar, sem perceber, o vale da estagnação e da morte.