O Aprendiz de Curandeiro

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Capítulo: 
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Espírito(s): 

 

Chico lia, escrevia, estudava, atendia aos doentes no Centro e, todos os sábados, ele e alguns amigos visitavam famílias que moravam embaixo de uma ponte em Pedro Leopoldo. Levavam roupa e comida, comentavam o Evangelho. Um dia, Chico ficou de mãos abanando. Sem donativos, só poderia levar água fluidificada. Os pobres esperavam o pão de toda semana. Chico já estava quase decidido a faltar ao compromisso, quando Emmanuel apareceu e recomendou que ele fosse de qualquer maneira. A ausência dele seria ainda mais frustrante. Enquanto pensava no assunto, indeciso, viu surgir, acima do portal de seu quarto, uma frase resplandecente: "Não vos deixarei órfãos..."

Tomou fôlego, caminhou até a ponte, com o grupo de companheiros, e, desconcertado, explicou aos pobres o problema: só tinham água. Os necessitados tentaram atenuar o constrangimento. Providenciaram uma toalha, estenderam o pano sobre uma laje de cimento e colocaram copos sobre ele. De repente, um senhor apareceu perguntando por Chico Xavier. Um casal de amigos ricos de Belo Horizonte havia mandado donativos. O caminhão estava parado na entrada.

- Onde devo descarregar? - perguntou o recém-chegado. Foi uma festa. Sobrou comida até para os doentes da favela ao lado.

O trabalho de assistência social também dividia opiniões. Chico sofreria críticas durante toda a sua vida. Muita gente acusava o espírita de ser demagogo e de se aproveitar da miséria alheia para divulgar a doutrina. Além disso, as doações eram só um paliativo, apenas remediavam o problema. O governo, e não os espíritas, deveria cuidar dos pobres. Chico engolia em seco e investia na caridade. Só mais tarde, com o discurso mais afiado, ele enfrentaria os ataques com argumentos eficientes:

- Se uma casa está pegando fogo, devo enfrentar o incêndio com alguns baldes de água antes da chegada dos bombeiros ou devo cruzar os braços?

- O banho não resolve o problema da higiene no mundo, mas nem por isto vou deixar de me lavar...

Anos depois, ele reforçaria seu arsenal de argumentos com uma resposta emprestada de madre Teresa de Calcutá. Quando perguntaram a ela se não era melhor ensinar a pescar, em vez de dar o peixe, ela disse:

- Muita gente não tem nem força para segurar a vara...