Transposto o grande portal do túmulo nossa alma padece, quase sempre, arrependida e enlutada, a revisão dos próprios erros.
Aqui, surgem na imaginação superexcitada a sombra de clamorosos pesares ante a deserção do dever que nos pedia renúncia, em troca da vitória espiritual.
Adiante, aflitivos remorsos nos aguardam, irredutíveis, perante a bagagem enorme dos males que semeamos.
Mais além, fantasmas acusadores de irmãos que encontraram a morte por nossa causa agigantam-se-nos na memória, muitas vezes, clamando por pagamento e justiça.
É então que, em muitas ocasiões, carreando o purgatório do sofrimento, em nós mesmos, longe de avançar no rumo do Céu, regressamos aflitos e torturados ao berço da experiência terrestre para reajustar e reaprender.
O amor infinito de Deus, todavia, descerra-nos mil recursos diversos para que nossas penas sejam amainadas.
É por isso que ao invés de tombarmos assassinados pela dívida de homicídio que perpetramos, habitualmente recebemos no próprio lar, categorizados à conta de filhos de nosso amor, os inimigos de outrora que nos conheceram o punhal na carne ou a lâmina da calúnia no coração.
E é ainda por isso que, sem necessidade absoluta de sermos espoliados por aqueles a quem furtamos o estímulo de viver, com eles renascemos no reduto doméstico para afagá-los com as nossas lágrimas de ternura e com as dores de nosso devotamento, reintegrando-os na posse da alegria e nas bênçãos da confiança.
Aceita os deveres mais ásperos que o mundo te confia por títulos preciosos da Misericórdia Divina, aliviando-te o madeiro da culpa, em vista de te facultarem suave caminho à solução dos próprios débitos.
Teus pais e filhos, teu esposo ou esposa, teus irmãos e parentes, companheiros e adversários, superiores e subalternos são quase sempre, os pontos vivos de tua luta regeneradora que, aceitos com o amor de Jesus, se convertem nas estações progressivas da grande jornada, pela qual te retiras do vale das trevas para os cimos da luz.