Ouvi hoje, mãezinha, os poemas que te exaltam a glória e, como acontece em tantos outros dias,
minha memória te buscou nas telas do tempo! O passado desfilou à frente de meus olhos e tornei a
escutar as palavras com que te magoei, recordando as ações infelizes com que, tantas vezes, te
deixei arrasada, entre o assombro e a aflição!…
Tornei a ver-te debruçada, em pranto sobre mim, quando leve mal-estar me tomava o corpo,
suplicando a Deus me poupasse ao teu carinho, a mim que te roubava a mocidade e atormentava o
coração… E reconstituí na lembrança o teu sorriso de ventura, quando a saúde, de novo, me coloria a
face!…
Depois, revi mais… Minha vida foi arrastada para fora de teu convívio pelas intimações do mundo, assim como o barco se desgarra do refúgio, arrebatado pelos golpes do vento. Então, nem o dinheiro e nem o conforto, nem o apoio social e nem a cultura da inteligência me apagaram a sede de retornar-te à presença, a fim de sentir-me outra vez no calor de teu regaço que me guardava no lar, à feição da paina forrando o ninho.
Nada encontrei que se te assemelhasse à ternura!…
Anjo, como desceste da luz divina para as sombras da Terra? Estrela, quem poderá definir o brilho
com que fulges, invariável, no céu da abnegação?
Anseio algo exprimir-te do meu agradecimento e do meu afeto, mas a emoção se me extravasa do
peito e as minhas frases esmorecem na boca… Por isso, ante o mundo que se enternece para
saudar-te, rogo te recolhas comigo no templo invisível da oração!…
Quero entregar-te minhalma para dizer-te sem palavras o amor com que te amo… Abraça-me!…
Conchega-me a ti!… Mais ainda!… Deixa que eu te beije a cabeça fatigada e, enquanto as lágrimas
de reconhecimento me caem dos olhos, à maneira de orvalho da gratidão sobre os teus cabelos que o
tempo esmaltou de prata, deixa que o meu coração pulse em silêncio, junto do teu!
Entretanto, fala mãezinha!… Dize-me ainda: “Deus te abençoe!…”