José Martins Peralva Sobrinho (ou Martins Peralva, como muitos o chamavam) nasceu em 1º de abril de 1918, em Buquim, cidade do sul de Sergipe. Embora não fosse mineiro, ele se alinha entre as figuras mais destacadas do Movimento Espírita de Minas Gerais.
Era filho de Basílio Martins Peralva e Etelvina da Fonseca Peralva. Seu pai foi um dos pioneiros do Espiritismo em terras sergipanas; era espanhol de nascimento, tendo vindo para o Brasil aos 12 anos de idade, fixando residência em Passa Quatro, Sul de Minas. Ainda moço, transferiu-se para o nordeste do País, onde, como engenheiro prático e desenhista, construiu ramais de estradas de ferro ligando a Bahia à Sergipe. Em Buquim, tornou-se fazendeiro e conheceu moça de rara beleza e peregrinas virtudes, conhecida como Teté (Etelvina), com quem contraiu matrimônio.
Martins Peralva iniciou-se no Espiritismo sob a assistência e orientação diretas de seu pai, excepcional médium curador, vigoroso polemista e excelente doutrinador. Acompanhando, desde os seis anos de idade, os trabalhos desenvolvidos com extraordinária segurança, presenciou em sua própria casa notáveis curas realizadas por intermédio de seu genitor. Teve a infância e a adolescência enriquecidas por fatos extraordinários e pelo contato com a Doutrina, o que lhe proporcionou formação espírita essencialmente baseada em Allan Kardec.
Do ponto de vista material, sua adolescência foi extremamente difícil, pois perdeu o pai com apenas 13 anos, em 21 de maio de 1931, ficando a viúva Etelvina e seus filhos Edison, Eurídice e José em situação de pobreza. Lívio Pereira da Silva, admirável companheiro de Basílio Peralva, providenciou emprego para o filho mais velho, Edison, de 15 anos, que cercou a família de todo carinho.
Apesar de ser o mais novo dos filhos, Martins Peralva assumiu o comando da casa e procurou logo trabalhar para obter o pão de cada dia. Seu primeiro emprego foi de balconista, na padaria de Ephrem Fernandes Fontes, parente pelo lado materno; o segundo, como office-boy do cartório de Heráclito Araújo Barros, também parente pelo lado materno; o terceiro, na cidade do Rosário do Catete, como apontador na construção do Grupo Escolar Senador Leandro Maciel, passando oito meses longe da mãe e irmãos, com apenas 15 anos de idade; o quarto, como apontador na conservação de estradas de rodagens, responsável pelo trecho Aracaju-Socorro-São Cristóvão, tendo de percorrer diariamente, a pé, cerca de 80 quilômetros (ida e volta), saindo de casa às 6 horas da manhã e retornando à noite, em trabalho realmente penoso para um adolescente franzino.
Penalizada com a situação do filho, a senhora Teté vendeu a pequena casa em que moravam e pôde comprar-lhe uma bicicleta, com a qual passou a fazer o longo percurso. Toda essa luta era um estímulo para o compenetrado garoto que, com a morte do pai, tomara a si a direção do lar.
Terminadas as obras no interior, passou a trabalhar, ainda como apontador, na reconstrução do prédio do Tesouro do Estado de Sergipe, sob as ordens do Dr. Josué Batista, trabalhando depois como fiscal de construções, reformas e limpeza de casas. Posteriormente, fez concurso público para o cargo de escriturário da Prefeitura Municipal de Aracaju, tendo sido aprovado e nomeado. Depois, por merecimento, ocupou os cargos de oficial administrativo e assistente da Procuradoria da Fazenda Municipal, sob direção do bacharel Mário de Araújo Cabral.
Tendo-se revelado funcionário exemplar e capaz, granjeou a simpatia e confiança dos prefeitos, sendo escolhido para secretário particular dos prefeitos Carlos Firpo e José Garcez. Até sua aposentadoria, motivada por doença pulmonar, permaneceu servindo a todos os prefeitos seguintes como oficial de gabinete.
Em 4 de fevereiro de 1938, com 20 anos, verificou-se o falecimento de sua mãe, Dona Teté, sobrevindo novas dificuldades. Os irmãos dispersaram-se e Martins Peralva, já com emprego certo na Prefeitura, permaneceu em Aracaju, passando a morar em república de rapazes, seus companheiros de futebol, esporte pelo qual era apaixonado e no qual iria destacar-se.
Ingressou no Paulistano F. C., chegando a ser convocado para a seleção de Sergipe. Todavia, por motivo de saúde, não chegou a disputar os jogos daquele ano, abandonando a prática do futebol em plena forma como center-half (médio volante).
Sua paixão pelo futebol era tão grande que, aos 25 anos, tendo assumido a presidência da União Espírita Sergipana, não deixou de comparecer, aos domingos, ao Campo Adolpho Rollemberg e ao Campo do Palestra (onde hoje está o “Batistão”), para defender as cores do
Paulistano. Foi também árbitro de futebol, diretor do Tribunal de Justiça Desportiva e redator esportivo do Correio de Aracaju, jornal em que também escrevia sobre Espiritismo, poesia, política e assuntos gerais.
Em agosto de 1942, sem família em Aracaju e morando em república, casou-se com Jupira Silveira, com quem teve três filhos: Ieda, nascida em Aracaju; Basílio e Alcione, nascidos em Belo Horizonte, os quais lhe deram cinco netos e quatro bisnetos.
Em 1949, indo ao Rio de Janeiro representar Sergipe na Festa Nacional do Livro Espírita promovida por valorosos companheiros, entre os quais Leopoldo Machado, Arthur Lins de Vasconcelos e Carlos Imbassahy, estendeu sua viagem, após o encontro, a Minas Gerais, objetivando conhecer e abraçar Chico Xavier, rever Virgílio Pedro de Almeida, discípulo de seu pai na área espírita, e visitar um irmão de seu pai, residente em Belo Horizonte: José Martins Peralva.
Seu primeiro contato com Chico Xavier ocorreu na noite de 13 de maio de 1949, em reunião do Centro Espírita Luiz Gonzaga, em Pedro Leopoldo, sob grande emoção espiritual. Desse encontro com Chico Xavier nasceu-lhe, espontaneamente, o desejo de transferir a residência para Belo Horizonte. Voltando a Aracaju, trocou ideias com seu médico, Dr. Lourival Bonfim, que o considerava como filho, sendo orientado a mudar-se para a Capital Mineira, tida na época como cidade de clima ideal para a cura de problemas pulmonares.
Desfazendo-se da casa própria que tinha na Capital Sergipana, ele e a esposa Jupira partiram para Belo Horizonte, levando consigo a filha Ieda de 6 anos, desembarcando no aeroporto da Pampulha, em 4 de setembro de 1949, para fixarem residência definitiva na Capital Mineira.
Seu primeiro contato com o meio espírita ocorreu na União Espírita Mineira, levado por Virgílio Pedro de Almeida, passando a trabalhar com Maria Philomena Aluotto Berutto (Dona Neném), Camilo Chaves, Bady Elias Cury, Oscar Coelho dos Santos, Raul Pompéia, José Alves Neto, Efigênio Salles Vitor, dentre outros. Simultaneamente, abraçou tarefas doutrinárias no Centro Espírita Célia Xavier, ao lado de Virgílio Almeida, Ederlindo Sá Roriz, Aderbal Nogueira Lima, José Pedro Xavier, Arnon Lopes Moreno e Antônio Rodrigues.
Quando chegou a Belo Horizonte em setembro de 1949, a Mocidade Espírita “O Precursor”, contava apenas seis meses de existência. Integrando-se ao movimento moço, foi um dos mentores da Mocidade. Foram também mentores Bady Raimundo Curi, Raul Pompéia, Virgílio Almeida e Maria Philomena Berutto.
Em 1964, depois de participar do Centro Espírita Célia Xavier durante 15 anos ininterruptos, fixou-se na União Espírita Mineira, exercendo os cargos de 1º Secretário e, posteriormente, os de Vice-Presidente, Secretário de O Espírita Mineiro, Diretor do Departamento de Doutrina e Divulgação e Diretor-Executivo do Conselho Federativo Espírita de Minas Gerais.
Ingressou na carreira bancária em 1º de abril de 1950 (sua data natalícia), recebendo, como presente de aniversário do seu amigo Virgílio Pedro de Almeida, o primeiro emprego em Belo Horizonte, no Banco Financial da Produção S/A. Como bancário por 35 anos ininterruptos, atuou como gerente dos bancos Bancos Belo Horizonte, Irmãos Guimarães, União Comercial, Itaú e Progresso, aposentando-se em 1985, pelo INSS.
Martins Peralva foi membro do Conselho Geral e Secretário do Abrigo Jesus, sócio-efetivo do Hospital Espírita André Luiz e 2º Secretário do Centro Espírita Luz, Amor e Caridade. Em Minas Gerais, escreveu cinco obras evangélico-doutrinárias de reconhecido valor: Estudando a Mediunidade, Estudando o Evangelho, O Pensamento de Emmanuel, Mediunidade e Evolução, editadas pela FEB, e Mensageiros do Bem, editada pela União Espírita Mineira.
Em 1963, apresentou na XVI Concentração de Mocidades Espíritas do Brasil Central e de São Paulo o trabalho intitulado “O Comportamento do Jovem em face do Problema Sexual”, que teve grande repercussão na época, quando o tema era ainda um tabu no meio espírita. Participaram desse trabalho, com exposições e debates orais, o médico de Uberlândia Ismael Ferreira de Rezende (parte científica), o sociólogo de Goiânia Múcio Melo Álvares (parte social) e Martins Peralva (parte religiosa).
Em 15 de julho de 2003, a devotada esposa Jupira desencarna em Belo Horizonte. Martins Peralva referia-se sempre à amada com muito carinho e gratidão, pois dizia que ela, ainda bem jovem, ajudou-o a enfrentar o problema de sua saúde, concordando em desfazerem-se da casa própria que possuíam em Aracaju, dedicando-se inteiramente ao seu tratamento na Capital Mineira.
Nos últimos anos, por efeito de pertinaz enfermidade, Martins Peralva viveu em sua residência sob cuidados médicos e o carinho dos familiares, afastado das lides doutrinárias em que despontou como lídimo expoente do Espiritismo. Desencarnou às 21h30 do dia 3 de setembro de 2007, aos 89 anos. O sepultamento do seu corpo ocorreu no dia seguinte, às 14h, no Cemitério da Colina, em Belo Horizonte.
Como escritor e jornalista de rara competência, ficou também conhecido pelos artigos espíritas que publicava no Jornal O Estado de Minas. Pertenceu à Associação Sergipana de Imprensa, era associado ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais (SJPMG) e à Associação Brasileira de Jornalistas e Escritores Espíritas (Abrajee), hoje Associação Brasileira de Divulgadores do Espiritismo (Abrade).
Fontes: - Subsídios fornecidos por Basílio Silveira Peralva, filho do biografado;
- Jornal “O Espírita Mineiro”, nº 293.